sábado, 19 de novembro de 2011


Introdução
    O basquetebol foi criado, em 1891, pelo professor de Educação Física da Associação Cristã de Moços (A.C.M.), James Naismith, na cidade de Springfield, Estado de Massachussets, Estados Unidos. Em síntese os motivos para a criação desse novo esporte se deram em função de um inverno rigoroso, com o objetivo de que pudesse ser praticado por um grande número de pessoas, que não fosse violento e pudesse ser adaptado a um local fechado.
    Em 1896, o basquetebol foi introduzido no Brasil, por intermédio do professor Augusto Shaw, que lecionava no Mackenzie College - São Paulo. Mas, a grande responsável pela divulgação do basquetebol no Brasil foi a A.C.M..
    Na atualidade, o basquetebol é praticado por um número significativo de pessoas, seja na escola, em clubes etc e, especialmente, em centros esportivos de treinamento. A cidade de Franca, Estado de São Paulo, ao adotar o basquetebol e incentivar a sua prática enquanto esporte - competição, tem revelado atletas nacionais, e é reconhecida como a "capital nacional do basquetebol".
    A presente pesquisa objetiva analisar o processo histórico de constituição e desenvolvimento do basquetebol masculino da cidade de Franca. Justifica-se tal pesquisa na perspectiva histórica, em prol da memória do esporte brasileiro, sendo que literatura existente limita-se, majoritariamente, a manuais de técnicas e regras.
    A presente pesquisa fundamenta-se na teoria dos "campos das práticas esportivas" de Pierre Bourdieu. De acordo com Bourdieu (1983) existe um "campo esportivo" que é constituído de objetos de disputas ("capitais simbólicos"), de práticas e interesses específicos. Neste "campo" existem agentes sociais que ocupam e disputam posições de acordo com seu "habitus". Bourdieu (1990) diz que:
"o habitus é ao mesmo tempo um sistema de esquemas de percepção e apreciação das práticas (...) produz práticas e representações que estão disponíveis para a classificação, que são objetivamente diferenciadas, (...) por agentes que possuam o código, os esquemas classificatórios necessários para compreender-lhes o sentido social" (p.158).
    Os agentes sociais que interagem no "campo" da modalidade basquetebol são os atletas, ex-atletas, técnicos, dirigentes, espectadores, patrocinadores, colaboradores etc. O "habitus" de cada um destes agentes sociais vão definir suas posições no interior do "campo esportivo".
    Partindo de tais pressupostos, realizou-se inicialmente revisão da literatura referente à história do basquetebol mundial e brasileiro. Na seqüência, apresenta-se a História do Basquetebol Masculino de Franca, do período de 1913 até os dias atuais. Realizaram-se entrevistas1 com um atleta - Marco Aurélio Pegoro dos Santos (Chuí), dois ex-atletas - Jorge Guerra (Guerrinha) e Fausto Gianechini -, três diretores - Roberto Jorge Saad, Antonio Celso do Carmo e José Ricardo Rufalo Rodrigues - e um colaborador - Sérgio Aleixo de Paula - do basquetebol francano.

Breve histórico da origem do basquetebol
    Durante o inverno de 1891, na cidade de Springfield, no estado de Massachussets, nos Estados Unidos, o diretor da YMCA, Young Men´s Christian Association ou ACM, Associação Cristã dos Moços, Dr. Ruther Halsey Gullick buscava um tipo de atividade física mais dinâmica e que pudesse ser adaptada a qualquer espaço, fosse atraente e que comportasse um grande número de alunos, além de ter se deparado com a baixa freqüência dos alunos às aulas de Educação Física. Devido ao clima frio as atividades específicas do futebol foram encerradas, e os alunos necessitavam se exercitar num espaço de 18 x 12 metros por pelo menos 1 hora (NOGUEIRA, 1995 e MEDALHA, 1989).
    Dr. Gullick era chefe do Departamento de Educação Física, e convidou James Naismith, professor de Educação Física, também formado em Teologia para ministrar as aulas de Educação Física na YCMA. Naismith, canadense nascido em 6 de novembro de 1891, lecionou na McGill University de Montreal, e trabalhou 6 anos com o ensino do futebol e da ginástica. Após ter aplicado um curso de ginástica utilizando o método sueco na Univesidade de Vinegard com o Barão Nills Posse, percebeu ser necessária a criação de um jogo atraente, que atendesse a um grande número de alunos, adaptado a qualquer espaço, fácil de aprender, não violento, dotado de características científicas para desafiar os melhores, competitivo, interessante, satisfatório aos participantes, que fosse um exercício completo e que pudesse ser realizado num recinto fechado (DAIUTO, 1991).
    Baseado nos aspectos anteriormente citados e tendo estudado os demais esportes, Naismith criou um jogo que envolvia 5 princípios básicos, na qual a bola seria esférica e grande; o jogador não poderia correr com a bola; a bola deveria ser passada com as mãos; não poderia haver contato corporal; e o alvo seria colocado horizontalmente (DAIUTO, 1991).
    A bola deveria ser lançada no alvo horizontal colocado num plano elevado, e Naismith teve como idéia o uso de caixas. Mas não havendo caixas, foram improvisadas cestas vazias de colher pêssego oferecidas pelo zelador, "Pop" Stebbins, e que foram colocadas em lados opostos, numa altura de 3,05 metros. O nome dado à modalidade foi basketball ou bola ao cesto (basket significa cesta, e ball significa bola). As cestas tinham 0,381 metros de diâmetro superior e de profundidade. E a primeira bola usada para a pratica da modalidade foi a de football (futebol) (DAIUTO, s/d; MEDALHA, 1989).
    A primeira partida de basquetebol foi disputada em 21 de dezembro de 1891 por 18 alunos do Curso de Secretários da YMCA, na qual as equipes foram divididas em A e B com de 9 integrantes cada. Consta que a partida terminou com 1 x 0 para a equipe A (DAIUTO, 1991).
    Nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 foi jogado pela primeira vez o basquetebol, no qual James Naismith levantou a bola simbolicamente no primeiro jogo realizado entre Estados Unidos e Canadá, numa quadra ao ar livre sob chuva, que teve como contagem final 19 x 8 (DAIUTO, 1991).

O basquetebol no Brasil
    Em 1896, o professor do Mackenzie College de São Paulo, Augusto Farnham Shaw, após uma viagem aos Estados Unidos, trouxe uma bola de basquetebol e foi o responsável pela divulgação do esporte, que inicialmente não teve muita aceitação. As alunas do Mackenzie College realizaram os primeiros jogos de basquete. E em 1912, o basquetebol foi introduzido na ACM de São Paulo, responsável pela grande divulgação do esporte. O primeiro campeonato de basquetebol aconteceu em 1915, realizado pela ACM (DAIUTO, 1991; MEDALHA, 1989).
    Fred Brown, técnico norte-americano formado pela YMCA, chegou ao Rio de Janeiro (1920) para atuar no Fluminense Futebol Clube, na qual atuou como técnico de campo e de gabinete, promovendo uma melhor organização e condução do basquetebol no Brasil. Durante 3 anos Brown esteve na direção de cursos técnicos na liga carioca de basquetebol, e a frente de equipes e da seleção brasileira, esforço a qual precedeu a criação da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (DAIUTO, 1991).
    Foi fundada, em 1923, a Federação Paulista de Bola ao Cesto ou Cestobol. E em 1925 aconteceu o primeiro campeonato brasileiro, promovido pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que reuniu as equipes de São Paulo, do Rio de Janeiro e do antigo Distrito Federal, na qual os cariocas foram vencedores (DAIUTO, 1991).
    No ano de 1933, foi fundada a Confederação Brasileira de Basquetebol (CBB) que passou a organizar todos os campeonatos brasileiros no ano seguinte (DAIUTO, 1991).
    A Federação Paulista de Bola ao Cesto, em 1942, passou a se chamar Federação Paulista de Basketball (DAIUTO, 1991).
    Na cidade de Belo Horizonte, no ano de 1953, os cariocas foram novamente campeões brasileiros.
    Em 1970, os paulistas foram campeões brasileiros na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, mantendo a hegemonia de 1955 (DAIUTO, 1991).
    Foi fundada a BRASTEBA, em 26 de outubro de 1977, a Associação Brasileira de Técnicos em Basquetebol, em São Paulo (DAIUTO, 1991).
    No cenário internacional o Brasil conquistou títulos importantes que concernem a: campeão sul-americano em 1945 e 58; 3º lugar no campeonato mundial de 1950 e 78; 3º lugar no campeonato mundial de 1950, 78; 3º lugar nos Jogos Olímpicos de 1960, 64; Vice-campeão dos Jogos Pan-Americanos de 1962, 87; 5º lugar nos Jogos Olímpicos de 1992; Campeão dos Jogos Pan-Americanos de 1971, 99 e 2003 (CADERNO TÉCNICO-DIDÁTICO BASQUETEBOL, 1983; DAIUTO, 1991; DAIUTO, s.d.; LANCELOTTI, 1996; REVISTA CESTA, ANO 2, MAIO/2003; REVISTA OFICIAL DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BASKETBALL, NOVEMBRO/2003).

O basquetebol francano
Origem e desenvolvimento do basquetebol amador a liga profissional
    A cidade de Franca, localizada no interior do Estado de São Paulo, é considerada a capital nacional do basquetebol masculino. Tal caracterização é justificada por sua tradição na prática e incentivo a este esporte que perdura desde o ano de 1913, quando o professor David Carneiro Ewbank fundou o Clube Atlético Franca, que em 1918 encerrou suas atividades. No final da década de 20 a prática do basquetebol é incentivada nas aulas de Educação Física da Escola Francana de Cultura Física com intuito de formar uma mocidade forte e útil à sociedade, seguindo o lema "mens sano in corpore sano" (BEDÔ, 1996).
    O basquetebol francano foi primeiramente incentivado por José Cyrilo Goulart, que se tornou o primeiro treinador, mas que não apresentava formação técnica especializada. E em seguida houve a intervenção do ex-atleta e campeão paulista de cestobol, Oscar Paulito, que ensinou novas técnicas (BEDÔ, 1996).
    No início da década de 30 foi fundada a Liga Francana de bola ao Cesto por José Cyrilo e Alfredo Henrique Costa. E no ano de 1931 realizou-se o primeiro campeonato de basquetebol de Franca, na qual o C. A. Rio Branco foi vitorioso (BEDÔ, 1996).
    O depoente Sérgio Aleixo de Paula relata que:
"(...) o primeiro campeonato foi disputado pelas seguintes equipes: Clube Athlético Rio Branco, Associação Athlética Chevrolet, Associação Athlética Escola Profissional, Associação Athlética Francana, foi campeão o Clube Athlético Rio Branco".
    Em 1936, aconteceram os primeiros Jogos Abertos do Interior, realizados na cidade de Monte Alto com a iniciativa de Baby Barioni, na qual aconteceu apenas o torneio masculino, com a participação das cidades de Franca, Olímpia, Monte Alto e Uberlândia, na qual Franca ficou em 3º lugar (BEDÔ, 1996; DAIUTO, 1991).
    Sérgio Aleixo de Paula diz que "em 1943 por intermédio do Professor Artur Ewbank, filho do Sr. David Ewbank, o bola ao cesto retoma uma injeção de ânimo e entusiasmo no Ginásio" que inicialmente chamava-se Ginásio Estadual de Franca, depois mudou para Escola Normal Dr. João Ribeiro Conrado, e finalmente para Instituto Estadual de Educação Torquato Caleiro, mais conhecido como I.E.E.T.C, ou depois I.E.T.C.
    Em 1943, o professor Arthur Ewbank, filho do professor David Carneiro Ewbank, foi quem incentivou o basquetebol na escola Ginásio Estadual de Franca, hoje o I.E.E.T.C., o Instituto Estadual de Educação Torquato Caleiro.
    Na década de 50, o professor de Educação Física Pedro Morila Fuentes, o "Pedroca", do colégio I.E.E.T.C. foi o grande incentivador do esporte. Pedroca, oriundo de São Paulo, formado em 51 na Universidade de São Paulo, tinha como especialidade o atletismo, porém logo se empolgou com o basquetebol tornando-se o maior incentivador da prática (OLIVEIRA, 1995).
    Sérgio Aleixo de Paula relata que no dia 4 de setembro de 1953 foi fundado, por pais de alunos e antigos jogadores, o Clube dos Bagres, pois a cidade não comportava mais a realização dos seus jogos no I.E.E.T.C. e
"com o passar do tempo esse clube tornou-se um Oásis aos desportistas de Franca; tornou-se uma espetacular academia de basquetebol, orientada pelo Prof. Pedroca, tendo a princípio a retaguarda de Ademar Rodrigues Alves, José de Alcântara Vilhena (o Juca), Paulo Archeti e sucessivamente os demais presidentes até 1971".
    Em 1959, aconteceu o primeiro campeonato oficial do Estado, o Troféu Bandeirantes, criado pelo Governo Estadual, e que foi realizado na cidade de Presidente Prudente-SP, na qual Franca foi representada pelo I.E.E.T.C., obtendo o 3º lugar. Sérgio Aleixo de Paula afirma que "(...)O primeiro sucesso em um certame oficial, foi em Presidente Prudente com um honroso 3º lugar".
    A partir de 1961, o Clube dos Bagres foi registrado na Federação Paulista de Basquetebol, e passou a ser o representante francano nos campeonatos estaduais, onde deu início a trajetória de títulos. Sérgio Aleixo de Paula tem registrado em seus arquivos que o Clube dos Bagres realizou 294 jogos, obteve 225 vitórias e 69 derrotas, conquistando 37 títulos de campeão, 9 de vice e um de 3º lugar. E diz que "em 1971 o Sr. Vitor de Andrade, presidente do Clube dos Bagres simplesmente acaba com o basquetebol do clube (...)".
    O basquetebol francano passa, então, a ser patrocinado pela Indústria de Calçados Emmanuel, e a equipe passa a se chamar Emmanuel Franca Esporte Clube. A equipe disputou campeonatos nacionais e internacionais, registrando um total de 177 jogos, sendo 138 vitórias e 39 derrotas, conquistando 27 títulos de campeão, 14 de vice e 5 honrosos. Com a falência dos Calçados Emmanuel em 1974 a equipe passou a ser patrocinada pela Indústria Amazonas Produtos para Calçados, e passa a ser o Esporte Clube Amazonas Franca. A equipe foi reformulada e neste período conquistou campeonatos: brasileiro, sul-americano, paulista e um vice-campeonato mundial interclubes, em Vareze, na Itália (OLIVEIRA, 1995).
    Segundo o depoimento de Sérgio Aleixo de Paula, em 1976, a Indústria Amazonas Produtos para Calçados encerrou seu patrocínio "em virtude de alguns dissabores políticos administrativos, a firma resolve encerrar o patrocínio do basquetebol". No entanto, foram registrados: 142 jogos, 125 vitórias, 17 derrotas, 35 vezes campeões, 8 como vice 8 e um 3º lugar.
    Sérgio Aleixo de Paula diz que
"em 76 a 84, a fim de colaborar assume a equipe a Associação Atlética Francana, para não deixar o basquetebol de Franca sucumbir; um pouco enfraquecida mas com um coração de guerreiros, os títulos continuam a ser obtidos: Paulista, Brasileiros, Sul Americanos e mais um Vice Campeão Mundial Inter Clubes, em Sarajevo na Yugoslávia".
    Em 1984, "surge uma crise administrativa e o esporte na A.A. Francana cai em decadência, e o basquetebol também sofre as conseqüências". Mas nos registros de Sérgio Aleixo de Paula constam 511 jogos, sendo 391 vitórias e 120 derrotas, conquistado um total de 47 títulos de campeão, 21 de vice, e 8 de 3º lugar.
    No final da década de 80, outra equipe foi formada por alguns ex-jogadores veteranos do Ravelli, o Dharma Yara. Em dois anos a equipe saiu da série A-II e passou a ser uma força do basquetebol brasileiro, e dividiu a torcida da cidade entre as duas equipes constando de muitas provocações e intrigas, inclusive entre os diretores. Tal rivalidade se manteve até 1997, quando o patrocinador Dharma deixou a equipe do Yara, e esta se transferiu para a cidade de Ribeirão Preto, onde se tornou a equipe do COC. Durante esse período, o interesse e o incentivo do basquetebol na cidade fez com que fossem instaladas tabelas nas ruas da cidade para que os jovens praticassem o esporte. Este fato mostra que Franca é uma das poucas cidades que incentivam a iniciação no esporte, o trabalho de base (OLIVEIRA, 1995).
    Sérgio Aleixo de Paula relata:
"a partir de 84 a 89 com a participação do Sr. Comendador Osvaldo Collesi e mais alguns abnegados, os de sempre que sempre colaboraram desde os tempos do Clube dos Bagres, nasce a Associação Francana de Basquetebol (A.F.B.) para continuar com a vibração do basquetebol de Franca. Muitos sacrifícios e muita perda monetária por parte do Sr, Collesi; procura-se patrocínio, surge a Pawer, depois a Scopus e posteriormente a Ravelli, essas firmas contribuíram precariamente para a manutenção do Basquetebol de Franca".
    E a equipe passou a se chamar Ravelli Franca Basquetebol "(...) sob a direção de Agostinho Ferreira Sobrinho, equilibram-se as finanças com o co-patrocínio da Sabesp; a trajetória gloriosa do basquetebol de Franca parecia continuar, mesmo com alguns contratempos novos títulos continuaram a surgir (...)". Nesta época Hélio Rubens Garcia assumiu a equipe como técnico, pois Pedroca estava afastado por problemas de saúde. Até no ano de 91, registraram-se 642 jogos, sendo 515 vitórias e 127 derrotas, 89 títulos de campeão e 21 de vice.
    De acordo com Oliveira (1995) e com os relatos de Sérgio Aleixo de Paula, no início da década de 90 a Ravelli entrou em conflito com os jogadores e o departamento de basquetebol. E em 1992 o clube se tornou independente, e surgiu o Franca Basquetebol Clube, que passou a incorporar a seu nome o de seus sucessivos patrocinadores: Sabesp, All Star, Satierf, Cosesp, Cougar, Gallus e Marathon que encerrou seu patrocínio em 8 de junho de 2001. Desde de janeiro de 1992 até julho de 2001, o clube registrou 841 jogos, sendo 597 vitórias e 244 derrotas, conquistou 26 títulos de campeão e 15 de vice.
    Atualmente, o clube vem realizando campanhas junto às empresas da cidade para obtenção de recursos financeiros para manutenção da equipe. E em 2002 lançou a campanha adote um atleta, onde a empresa seria responsável pelo pagamento dos salários do atleta, e teria direito de expor sua marca nos uniformes de treino do mesmo. O clube propôs a câmara municipal de Franca no ano de 2002 uma lei que destinaria uma porcentagem da arrecadação de I.C.M.S. ao clube, proposta essa que foi votada no ano de 2002, e que geraria recursos suficientes para manutenção da equipe no esporte de alto nível, porém essa lei acabou não sendo aprovada pelos vereadores da cidade2.
    Hoje, o clube conta com um patrocínio do Banco do Brasil, conseguindo por intermédio da prefeitura municipal de Franca no ano de 2003, porém esse patrocínio, mais as campanhas realizadas junto às empresas da cidade e o ingresso sócio-torcedor só é suficiente para manutenção de uma equipe adulta de nível médio, que é formada em sua maioria por atletas advindos das categorias de base.
    Toda a dificuldade financeira que a equipe enfrenta, vem se refletindo no desempenho do time na Liga Nacional 2003-2004, o que provocou pela primeira vez na sua história a demissão de um técnico. O clube teve três treinadores da equipe principal, e agora passa a ser comandado pelo ex-jogador Marco Aurélio Pegoro dos Santos, o Chuí, que tem como responsabilidade recolocar o basquetebol francano entre os melhores do país, mantendo sua condição da cidade de capital do basquetebol.
    Percebe-se que o basquetebol francano se desenvolve pelos esforços de amantes deste esporte que buscam mantê-lo como prática primordial na cidade como relata Jorge Guerra:
"(...) o basquete em Franca é o primeiro esporte e nas escolas nas ruas, socialmente falando, então todo garoto francano, toda criança francana é inicia no basquetebol, no futebol e outros, natação, atletismo, só que o basquete fala mais forte e eu tive talento pra continuar no basquete".
    No período pesquisado, constata-se pelos relatos seguintes que o basquetebol francano saiu da condição de esporte amador e, hoje, apresenta características de "profissional", porém, com dificuldades no que se refere à patrocínios, fator imprescindível para manter as equipes:
"(...) já estava já bem profissional, hoje inclusive ja tá bem mais né, e o basquete hoje é um meio de vida, porque antigamente as pessoas jogavam a troco de bolsa de estudo ou do emprego com a área que você atuava, e hoje não, hoje a pessoa joga profissionalmente, se ele tive que fazer algum curso, alguma coisa, se tive um jogo ele tem que falta do curso pra ir pro jogo, e antigamente não, você balançava, tem dia que você não ia joga porque se tinha alguma prova, algum curso pra fazer, mas hoje atualmente não". (Fausto Gianechini)
"Patrocínio é sempre dificultoso. Nos dias de hoje temos dificuldades em conseguir patrocínio pelo elevado custo de uma equipe, e mais ainda quando o poder público não incentiva o esporte amador. (...) se não houver incentivo por parte do poder público, nosso esporte pode fracassar, porque é amador". (Antonio Celso do Carmo)
    Nestas condições o esporte não oferece muitas opções aos atletas ao término de sua carreira e/ou enquanto atuante, como mostra o relato de Chuí sobre o basquetebol:
"Ele vive por momentos, né? A gente pode falar que economicamente ele não é um esporte de segurança, que você saiba com certeza que você vai ter emprego por dois ou três anos seguidos, porque muitos clubes abrem e fecham, é uma insegurança que está sempre presente, mas dentro da média dá pra você ter um padrão bom de vida, mais você não vai acabar de jogar e falar que não precisa mais jogar, você tem que se direcionar pra outro emprego, e realizar tudo que você fez no seu tempo de esportista no seu negocio, no comercio no que você for fazer depois".

O amor pelo basquetebol
    O amor pelo basquetebol na cidade de Franca torna-se claro nos relatos dos depoentes sobre o significado o basquetebol para eles, bem como da representação do esporte para os cidadãos francanos:
"Pra mim significa muito pessoalmente, como pelo trabalho que a gente desenvolve, pela paixão pelo basquetebol, porque ele representa muito para nossa cidade (...) todos nós gostamos, (...) é uma coisa que a gente não consegue ficar afastado (...) a gente sempre tá envolvido e é uma paixão realmente, quem vive isso não vai perder essa paixão nunca". (Roberto Jorge Saad)
"Gostando do esporte, e principalmente do basquetebol francano que é uma verdadeira paixão. Muita satisfação em poder estar ao lado do esporte". (Antonio Celso do Carmo)
"Paixão é o gosto pelo esporte, foi convidado fui pra diretoria e hoje estou presidente". (José Ricardo Rufalo Rodrigues)
"Franca é uma cidade que é, vive basquetebol há mais de 40 anos, então é uma diretoria que como todas as outras são movidas muito pela paixão, pelo entusiasmo pelo prazer de tá servindo uma modalidade que a cidade de Franca abraçou". (Roberto Jorge Saad)
"O que nós passamos; nós dormimos, eu o Pedroca e mais alguns, quantas e quantas vezes dormimos nas garages das estações de estradas de ferro com as taças nos bancos duros da estação, esperando o trem chegar pra voltar pra Franca, as vezes sem café, que toma café nem nada, quantas vezes tivemos que viaja sem nada, e os jogadores também, jogavam sem tomar um café, um pão as vezes, ratiava lá entre nós pra comprar um pãozinho uma coisa". (Sérgio Aleixo de Paula)

Considerações finais
    O basquetebol é um esporte que desde sua criação sempre atraiu o interesse das pessoas, fato notado com a revisão de literatura voltada para a origem e evolução desse esporte, que após sua invenção já era praticado em grande parte dos países do mundo.
    No Brasil foi introduzido em 1896, e em pouco tempo contagiou os brasileiros, sendo notada a criação de clubes, e a realização de campeonatos, que atraiam a atenção das pessoas que gostavam desse esporte. Logo surgiram equipes muito fortes que passaram a marcar o seu nome na história do basquetebol, como é o caso da equipe da cidade de Franca.
    O basquetebol foi introduzido em 1913 na cidade de Franca e se tornou o esporte mais praticado, envolvendo grande parte dos cidadãos francanos. Pelos depoimentos pôde-se constatar que o basquetebol ainda sobrevive na cidade de Franca devido ao "amor" por esse esporte. Os agentes sociais envolvidos neste contexto esportivo foram os grandes responsáveis por manter o basquetebol na cidade. Porém, como os demais esportes, o basquetebol necessita de patrocínio para que se mantenham as equipes, bem como o incentivo à iniciação esportiva, o esporte de base.
    Atualmente, esse trabalho vem sendo realizado principalmente pela iniciativa privada, sendo quase inexistente a participação dos órgãos municipais de esportes, fazendo com que seja atingida somente uma faixa social, e reduzindo a possibilidade de se revelar novos talentos, que seriam responsáveis pela manutenção desse esporte em nível de competição.
    O atual clube não está distante das dificuldades financeiras enfrentadas pelo esporte brasileiro, pois não existe uma política pública efetiva que incentive os clubes a se profissionalizarem, e que atraia as empresas a investirem no esporte.

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